Por João Gualberto*

No século XIX o café tornou-se a grande riqueza capixaba. A região Sul do nosso estado foi a que mais se beneficiou do progresso que o produto trouxe. O Vale do Rio Itapemirim transformou-se no local privilegiado da produção cafeeira. Havia também o plantio em outros lugares, mas estava no Sul a maior parte das grandes fazendas. São Pedro de Itabapoana no vale daquele rio, Alegre, Cachoeiro do Itapemirim, Castelo foram municípios que cresceram muito.

O progresso do café trouxe ferrovias, luz elétrica, estradas, telégrafo e tudo o mais que podia significar melhorias no final do século XIX e inicio do século XX. A cidade polo de todo esse processo foi Cachoeiro de Itapemirim. Ela acabou por tornar-se a cidade mais moderna do nosso estado, a mais importante também. Era a capital econômica do Espírito Santo, muito mais potente do que Vitória, a capital administrativa. Todos os sinais visíveis do progresso estavam lá.

Com a erradicação abrupta dos cafezais, através de uma política pública socialmente irresponsável, sobretudo a partir dos anos 1960, tivemos o inicio do esvaziamento econômico do Sul. Nesse momento os chamados grandes projetos – sobre os quais tenho escrito ultimamente nessa coluna – começaram a ser a nossa pauta de desenvolvimento. Passaram a ocupar na economia, também no imaginário capixaba, um lugar que fora antes o do café.

Foi no governo de Arthur Gerhardt, no início dos anos 1970, como já registrei, que essa pauta desenvolvimentista estava claramente colocada na ordem do dia. As inaugurações das plantas industriais da Companhia Siderúrgica de Tubarão, da fábrica da Aracruz Celulose, da Samarco, e a consolidação da importância do Porto de Tubarão transferiram o centro dinâmico da economia capixaba para a região metropolitana de Vitória, que seria a partir daí o local do desenvolvimento. A cabeça das cadeias produtivas do setor metal mecânico que revigoraram a produção de empregos e riquezas tinham se instalado, o progresso tinha mudado de lugar.

Nesse momento, chegou ao governo estadual o então deputado federal Elcio Alvares. Ele iniciou seu período de gestão em 1975.  Advogado de renome e hábil articulador político, era até então afastado do processo de formulação técnica que levou ao nosso desenvolvimento industrial. Seu governo, entretanto, herdou um estado muito modificado, e ele consolidou em termos de projetos urbanos uma das faces mais relevantes das mudanças, a nossa Região Metropolitana.

Muitos foram os seus feitos nessa área. Aquele que mais marca os capixabas certamente o início da construção da chamada Terceira Ponte, ligando de forma definitiva Vitória a Vila Velha. A obra foi inaugurada somente na gestão de Max Mauro em 1989. Mas devemos muito dela a Elcio. A ponte mudou a feição das duas cidades. O transporte aquaviário, obra sua, inaugurada ainda no seu governo, também teve um papel importante nessa integração entre as duas cidades. Eu mesmo muito utilizei as barcas nesse período para me descolar de Vila Velha ao centro de Vitória.

Não menos importante foram os aterros urbanos dando origem as avenidas que ligaram o bairro de Bento Ferreira à Praia de Camburi. A cidade ganhou do mar espaços muito importantes. Essas vias urbanas consolidaram a mudança de importância da zona norte da capital, a partir daí o centro urbano mais importante da capital. Não se esgotam aí a importância dessa visão metropolização da região da Grande Vitória, muitas outras obras tiveram lugar, como a rodoviária, as melhorias no abastecimento de água para os vários municípios, por exemplo. A rodovia do sol, inaugurada naquele período, ligou a região ao principal balneário da classe média da capital: Guarapari.

Depois dele, até pelo crescimento populacional, tínhamos uma região metropolitana que começou a se pensar de forma integrada. O Instituto Jones dos Santos Neves, principalmente através da formulação do economista Arlindo Villaschi, deu a densidade técnica para essas ações políticas. A BR 101 integrou Cariacica e Serra a Vitória de uma vez por todas. Viva Velha e Vitória se transformaram em região conturbada. As medidas aqui listadas foram muitos oportunas e de fato se inscrevem entre as visões de progresso que marcaram essa geração de capixabas.

*João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política. A publicação do artigo no site Elcio Alvares foi autorizada pelo autor.